Tão simples como colocar palavras na sua cabeça.
Assim como aprendi na escola publica, no início da ditadura
brasileira, que bandeirantes eram heróis que
calçavam
grandes botas de couro e desbravaram as matas tropicais do Brasil em busca de
ouro, aprendi também que São Paulo tentou em 1932 que o “Brasil” seguisse “a
constituição”, chamando o governo de exceção de Getúlio Vargas de ditador, e
quem reportava a “história oficial” eram alguns professores, funcionários
públicos, reeducados sob o signo dos acordos entre a elite nacional com os
grandes centros econômicos internacionais.
Nessa mesma escola, a principal crítica que se fazia era do
caráter preguiçoso que estava sedimentado na personalidade nacional. Principalmente
nos imigrantes nordestinos que aqui em São Paulo se instalavam.
Nessa época alguns professores me explicaram que a única
forma de um país de terceiro mundo (expressão surgida nesse período) de chegar
às margens do desenvolvimento, seria através da estatização da indústria
nacional, pois a indústria privada “nunca” teria a mesma capacidade tecnológica
de se tornar competitiva perante os avanços alcançados pelas indústrias
norte-americanas e europeias.
E só para não esquecer: lia-se nas notas de dinheiro, “Estados
Unidos do Brasil”, alem de carregar na estampa da nota um personagem heroico da
história do Brasil. Cabral, Barão do Rio Branco, Tiradentes, Santos Dumont...
Dentro desse quadro, durante quase toda minha vida ouvia,
lia, assistia ou aprendia que o brasileiro seria incapaz de sair da sua
condição de sub-raça, apesar dos esforços oferecidos pelo governo brasileiro.
Já ia me esquecendo. Nessa época havia as detestáveis eleições
para vereadores, deputados e senadores, ainda que os cargos executivos não
estivessem disponíveis ao mercado democrático. No núcleo do “estado de exceção,
esses representantes das assembleias já eram reconhecidos pelo povo como
vigaristas que só serviam para negociar vantagens pessoais. Ainda que alguém da
sua família já tirasse proveio desses privilégios concedidos pelos
representantes do poder público, em geral, a classe média paulistana,
inferiorizada pela condição de Estado que carregava o Brasil nas costas, mas
que na sua maioria, não parecíamos suficiente satisfeito com a qualidade de
vida que essa Capital poderosa, pudesse-nos proporcionar, essa prática do “favorecimento”
era hipocritamente condenada e desejosamente querida.
Toda essa história paralela, alimentada por notícias de
jornais, ou pelos telejornais, ou pelos jornais das rádios, ou ainda nas aulas
de história ou de Educação Moral e Cívica, geralmente ministradas por “agentes
do DOPS”, funcionavam como alicerces desse formato da derrota coletiva do País.
Foi assim que os mais ou menos oitenta milhões de
brasileiros, grupo que me incluo, formatou seu perfil cidadão.
Passado todo esse tempo e que no meio disso tudo o
brasileiro viu, ouviu, leu e assistiu o País voltar ao modelo de “democracia
plena”, viu, ouviu, leu, assistiu e votou num presidente operário e num partido
de formação popular, as bases do pensamento social da classe média paulistana são
realimentadas por essas ideias de que o Brasil feito por brasileiros, nunca
será uma nação capaz de superar sua condição de sub-raça. Agora mesmo assistia
um repórter afirmar que o COE escolheu o Japão como sede das olimpíadas de
2020, pois não estava mais em condições de apostar em países cuja
infraestrutura não estivesse pronta, o que não é o caso do Japão...
Tão simples como colocar palavras na sua cabeça.